Li Sidarta somente agora. Hermann Hesse o escreveu em 1922. Nos anos 60, os jovens o liam pois seria um daqueles livros que "mudariam suas vidas". Li-o talvez mais como um livro de autoajuda. Mas que bom ler um livro destes, tão bem escrito, diferentemente de seus congêneres e sucessores atuais.
Excertos do mesmo:
"_Ótimo. E qual será o bem que tu poderás oferecer? Que aprendeste? Que sabes fazer?
_ Sei pensar. Sei esperar. Sei jejuar."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.57
"Dela aprendia Sidarta que os amantes não devem separar-se após a festa do amor, sem que um parceiro sinta admiração do outro; sem que ambos sejam vencedores tanto como vencidos, de maneira que em nenhum dos dois passa surgir a sensação de enfado ou de vazio e ainda menos a impressão desagradável de terem-se maltratado mutuamente."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.58
"Certa vez, encaminhou-se a uma aldeia, a fim de adquirir ali grande quantidade de arroz. Quando chegou ao destino da viagem, soube que o arroz já fora vendido a um concorrente. Mesmo assim permaneceu vários dias naquela aldeia. Convidou camponeses a comerem e beberem. Presenteou a criançada com moedas de cobre. Participou dos festejos de um casamento e, finalmente, regressou, satisfeitíssimo. E quando Kamasvami o repreendeu pela demora do retorno e pelo desperdício de tempo e dinheiro, respondeu Sidarta:
_ Para de ralhar comigo, meu caro! Nunca ninguém conseguiu coisa alguma por meio de resmungos. Se houve prejuízo, deixa que eu arque com ele. Fico muito contente com o resultado desta viagem. Conheci muita gente. Um brâmane tornou-se meu amigo. Criancinhas cavalgaram nos meus joelhos. Camponeses mostraram-me os seus campos. Ninguém me tomou por um negociante.
_ Tudo isso é muito bonito _ exclamou Kamasvami, agastado. _ Mas, na realidade, és um negociante, acho eu! Ou fizeste essa viagem unicamente para divertir-te?
_ Claro! _ disse Sidarta, soltando uma gargalhada. _ Claro que viajei para divertir-me. Por que outra razão o teria feito? Cheguei a conhecer pessoas e regiões. Obtive gentilezas e confiança. Encontrei amizade. Olha, meu amigo, se eu fosse Kamasvami, teria regressado imediatamente, a toda a pressa, cheio de raiva, ao constatar que a compra não sairia. Nesse caso, o resultado da viagem seria de fato uma perda de tempo e dinheiro. Mas, assim, tive alguns dias amenos. Aprendi alguma coisa. Alegrei-me e não prejudiquei nem a mim nem a outras pessoas por nervosismo ou precipitação."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.60
"Nesse instante, Sidarta começava a vislumbrar o motivo por que não conseguira vencer aquele eu, nem como brâmane, nem como penitente. O que o impedira fora o excesso de erudição, de versículos sagrados, de rituais, de sacrifícios, de ascetismo, de atividades e de ambições. Sempre se pavoneara com altivez; sempre quisera ser o mais inteligente, o mais zeloso; sempre se empenhara em tomar a dianteira; sempre se exibira nos papéis de sábio, de intelectual, de filósofo. Nesse sacerdócio, nessa altivez, nessa erudição infiltrava-se o seu eu."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.83
"Entre as boas qualidades do balseiro, uma das maiores era saber escutar como mais ninguém. Sem que o outro quebrasse o seu silêncio, notava Sidarta que Vasudeva acolhia todas as suas palavras no seu íntimo, sempre se conservando atento, imóvel, receptivo, sem perder nenhuma frase, sem nunca impacientar-se."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.88
"Mas muito mais do que Vasudeva pudesse ensinar-lhe ensinava-lhe o rio. Sem cessar, Sidarta aprendia dele. Antes de mais nada, aperfeiçoava-se na arte de escutar, de prestar atenção, com o coração quieto, com a alma receptiva, aberta, sem paixão, sem desejo, sem preconceito, sem opinião."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.89
"Ao que replicou Sidarta:
_ Que poderia eu dizer-te, ó reverendo? Só, talvez, que procuras demais, que de tanta busca, não tens tempo para encontrar coisa alguma.
_ Por quê? _ perguntou Govinda.
_ Quando alguém procura muito _ explicou Sidarta _ pode facilmente acontecer que seus olhos se concentrem exclusivamente no objeto procurado e que ele fique incapaz de achar o que quer que seja, tornando-se inacessível a tudo e a qualquer coisa porque sempre só pensa naquele objeto, e porque tem uma meta, que o obceca inteiramente. Procurar significa: ter uma meta. Mas achar significa: estar livre, abrir-se a tudo, não ter meta alguma. Pode ser que tu, ó Venerável, sejas um buscador, já que, no afã de te aproximares da tua meta, não enxergas certas coisas que se encontram bem perto dos teus olhos."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.115
Este abaixo lembra-me uma frase de Luiz Gonzaga Jr. que cito frequentemente: "toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de tantas outras pessoas". (Caminhos do Coração)
"_Ora, meu caro amigo _ tornou Sidarta _, tu sabes muito bem que já na minha mocidade, naqueles dias que passamos na floresta, em companhia dos ascetas, cheguei a desconfiar de doutrinas e de professores, a tal ponto que lhes virei as costas. E assim me conservei. Desde então, porém, tive numerosos mestres. Uma formosa cortesã serviu-me de instrutora durante longos anos. Um comerciante abastado ministrou-me ensinamentos. Alguns jogadores de dados me deram aulas. Certa feita, um peregrino, discípulo do Buda, foi meu mestre, quando permaneceu sentado perto de mim, enquanto eu dormia na selva, por ocasião de uma romaria. Também a ele devo certas noções e lhe fico grato por isso, muito grato. Mas a maior parte do que aprendi veio-me do rio e de meu professor, o barqueiro Vasudeva. Foi um homem simples, esse Vasudeva. Nenhum filósofo. Mas sabia o necessário, tão bem quanto Gotama. Reputo -o um ser perfeito."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.116
"Mas o próprio mundo, o ser que nos rodeia e existe no nosso íntimo, não é nunca unilateral. Nenhuma criatura humana, nenhuma ação é inteiramente Sansara nem inteiramente Nirvana. Homem algum é totalmente santo ou totalmente pecador."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.117
"O pecador não se encontra no caminho do estado de Buda; não está em plena evolução, muito embora o nosso cérebro seja incapaz de imaginar as coisas de outro modo. Pelo contrário, no pecador, já se acha contido, hoje, agora mesmo, o futuro Buda. Todo o seu porvir já está presente. Tu deves respeitar na pessoa desse pecador, na tua própria pessoa, na de qualquer homem, o Buda em botão, o Buda possível, o Buda oculto. O mundo, amigo Govinda, não é imperfeito e não se encaminha lentamente rumo à perfeição. Não! A cada instante é perfeito. Todo e qualquer pecado já traz em si a graça."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.118
"Unicamente o meu consenso, a minha vontade, a minha compreensão carinhosa são necessários para que todas as coisas sejam boas, a ponto de somente me trazerem vantagens, sem nunca me prejudicarem."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.118
"Não me obrigues, porém, a falar mais. As palavras deturpam sempre o sentido arcano. Todas as coisas alteram-se logo que lhes pronunciamos o nome. Então se tornam levemente falsas e ridículas... Pois é. Mas, olha, até isso acho bem feito. Aprovo inteiramente e com o maior prazer o fato de que aquilo que para uma pessoa é um tesouro e uma grande sabedoria representa para os demais homens rematada tolice."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.119
"Não é nos seus discursos e nas suas ideias que se me depara a sua grandeza, senão unicamente nos atos e na sua vida."
Herman Hesse, Sidarta, FSP, 2003, p.121
A Bela e a Fera, Disney, 1991
_ Ola, Bela.
_ Bon jour, Gaston.
Gaston então toma o livro das mãos de Bela.
_ Gaston, me devolve o livro, sim?
_ Como pode ler isto? Não tem figuras.
_ Ah, só precisa usar a imaginação.
_ Bela, já é tempo de você afastar a cabeça destes livros e dar atenção a coisas mais importantes, como eu.
Gaston atira o livro na lama. Bela o apanha e limpa com o avental.
_ A aldeia toda só fala nisso. Não é direito a mulher ler. Logo começa a ter idéias, a pensar.
_ Gaston, você é um homem primitivo.
_ Obrigado, Bela.
Atendendo a pedidos de minha filha, temos representado juntos, muitas vezes, o diálogo acima, ela no papel de Bela e eu no de Gaston. Espero continuar fazendo por muitos anos e que ela aprenda com Bela a paixão pela leitura.
_ Ola, Bela.
_ Bon jour, Gaston.
Gaston então toma o livro das mãos de Bela.
_ Gaston, me devolve o livro, sim?
_ Como pode ler isto? Não tem figuras.
_ Ah, só precisa usar a imaginação.
_ Bela, já é tempo de você afastar a cabeça destes livros e dar atenção a coisas mais importantes, como eu.
Gaston atira o livro na lama. Bela o apanha e limpa com o avental.
_ A aldeia toda só fala nisso. Não é direito a mulher ler. Logo começa a ter idéias, a pensar.
_ Gaston, você é um homem primitivo.
_ Obrigado, Bela.
Atendendo a pedidos de minha filha, temos representado juntos, muitas vezes, o diálogo acima, ela no papel de Bela e eu no de Gaston. Espero continuar fazendo por muitos anos e que ela aprenda com Bela a paixão pela leitura.
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